Peste Negra teve impacto menos devastador na Península Ibérica

Estudo é publicado esta quinta-feira na revista “Nature Ecology & Evolution”. Carla Sá Ferreira, licenciada em Arqueologia pela UMinho, é uma das 60 investigadores responsáveis por este trabalho.

A Peste Negra não teve um impacto tão devastador na Península Ibérica como na região Centro e Norte da Europa. A conclusão é de um estudo internacional que conta com 60 investigadores de 19 países, entre eles, Carla Sá Ferreira, licenciada em Arqueologia pela Universidade do Minho e doutorada pela Queen’s University Belfast. O resultado é publicado esta quinta-feira, 10 de fevereiro, na revista “Nature Ecology & Evolution”.

A RUM conversou com a paleoecóloga que atualmente vivem na Irlanda do Norte. Aos microfones da Universitária revela que o trabalho se baseou em amostras de pólen de 261 locais, como as paisagens e a atividade agrícola mudaram um século antes e após aquela pandemia.

Em Portugal as amostras foram recolhidas na serra da Cabreira (Vieira do Minho) e no vale do rio Terva (Boticas), com o apoio da Unidade de Arqueologia da UMinho. A equipa teve em conta indicadores como a “atividade humana e cultivo”. “Era de esperar que se existisse uma grande mortalidade os indicadores de atividade humana e cultivo diminuíssem o que não aconteceu em certas regiões. Existem dois tipos de impactos da Peste Negra. No Centro e Norte da Europa os indicadores reduziram fortemente e em outros locais como Portugal e Espanha, a diminuição é insignificante”, afirma.

Os dados recolhidos em Espanha coincidiram com os de Portugal, logo a zona ibérica terá sido dos territórios em que a Peste Negra teve menos efeitos, a par das ilhas britânicas e do noroeste europeu. Já na Escandinávia, França, Grécia, Alemanha meridional e Itália central, a atividade agrícola diminuiu bastante naquele período, coincidindo aí com as elevadas taxas de mortalidade registadas em fontes medievais.

Na Idade Média cerca de 75% da população vivia em zonas rurais, locais que a investigadora acredita não terem sido levados em consideração quando foi estudada a mortalidade e impacto da Peste Negra, ou seja, o conhecimento que possuímos nos dias de hoje é sobretudo relativo aos contextos urbanos.

Para Carla Sá Ferreira esta publicação na revista “Nature Ecology & Evolution” trata-se de um reconhecimento importante, visto que a paleoecologia tem pouca expressão em Portugal e, no geral, ainda é pouco conhecida.

“A paleoecologia pode ajudar a dar respostas a acontecimentos do passado, mas que ainda hoje sentimos os seus efeitos” quer sejam ao nível de patologias, ecossistemas como nas paisagens. Esta área utiliza diferentes abordagens, logo, segundo a investigadora, consegue dar uma visão mais “holística” dos acontecimentos. “O passado tem muita coisa para nos ensinar”, conclui.

A Peste Negra assolou a Europa, Ásia Ocidental e Norte da África de 1347 a 1352, sendo a pandemia mais arrasadora da História, com 75 a 200 milhões de mortes estimadas, e contribuindo para várias transformações sociopolíticas e culturais, como o Renascimento.

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Vanessa Batista
Vanessa Batista

Jornalista na RUM

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Carolina Damas
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