“Um retrato não é um espelho da alma”

Um retrato não é um “espelho da alma”. A premissa é defendida pela coordenadora do projeto “Retrato e representação” que está a ser desenvolvido no Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho, no âmbito do grupo 2I – Grupo de investigação sobre estudos de identidade e intermedialidade.

A convidada do UMinho I&D, Eunice Ribeiro, estuda as questões do retrato poético e literário há mais de 20 anos. Nesta entrevista, explica de uma forma atual e simplificada o que revelam e escondem estas representações do “Eu”. 

Quais as origens históricas do retrato? 


Segundo a investigadora da UMinho, as origens do retrato estão intrinsecamente ligadas às questões dos rituais funerários na época romana e egípcia. Através destas representações era criada uma “espécie de presença eterna” de uma personalidade importante à época. Eunice Ribeiro refere que esta motivação não se perdeu na atualidade, continuamos, muitas vezes, a atribuir um significado afetivo aos retratos.

Retrato ou máscara? 


O retrato, que começou pela pintura e escultura, democratizou-se e hoje está acessível a todos, à distância de um clique. Passamos de uma imagem individual única do sujeito para uma visão coletiva, por vezes abstrata e metamórfica. No século XXI, é possível fazer retratos de diversas formas, quer seja através da música quer através de filmes. Uma contradição que leva os especialistas e pensadores a afirmar que “é impossível fixar num formato estático o Eu que temos ideia de ser metamórfico”.

A ideia da perfeição também ganhou uma nova dimensão com as redes sociais. Os filtros utilizados em plataformas como o Instagram acabam por ser “armadilhas”. Atualmente, existem artistas que optam por retratar indivíduos decapitados com enfase em outras partes do corpo como as mãos, joelhos ou pés. “Altera o modo de nos pensarmos”, diz Eunice Ribeiro.

Outra referência dos dias de hoje para os mais jovens é a influencer Kim Kardashian que ensina a tirar a selfie perfeita, mas a investigadora questiona “Será que esta selfie é a nossa perfeita revelação ou, por outro lado, a nossa perfeita máscara?”. A investigadora alerta para o facto deste modo atual do retrato colocar problemas “complexos sobre a questão de quem pensamos que somos”.

A grande metragem “Joker”, com Joaquin Phoenix, aborda a questão da máscara de uma forma inversa, ou seja, é a máscara que “acaba por desvendar o verdadeiro rosto”.

O projeto “Retrato e representação” conta com conversas mensais, as “Portrait Talks”, sempre nas últimas semanas de cada mês. A próximas está agendada para o mês de setembro, com Xaquin Nuñez Sabaris, sobre “retratos a partir de séries televisivas”. 

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Vanessa Batista
Vanessa Batista

Jornalista na RUM

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