50 anos de UMinho. A universidade de investigação que desenvolveu a região

Falar da história da Universidade do Minho é recordar uma das mais ambiciosas transformações do sistema de ensino superior português. Até 1972, existiam em Portugal apenas quatro universidades públicas: Coimbra, Lisboa, Técnica e Porto.
Em 1973, o Ministro da Educação Nacional, até então reitor da Universidade de Lourenço Marques, atual Maputo, José Veiga Simão, lançou um ambicioso programa de regionalização do ensino universitário português que passava pela criação de novas universidades públicas, são elas: Aveiro, Minho, Évora e Nova de Lisboa.
A 17 de fevereiro de 1974, tomava posse no Largo do Paço, em Braga, a Comissão Instaladora da Universidade do Minho composta por Carlos Lloyd Braga, reitor da jovem academia, a quem se juntava Joaquim Barbosa Romero, Joaquim Pinto Machado, Lúcio Craveiro da Silva e Diogo Freitas do Amaral. Foi na cidade dos arcebispos que Veiga Simão sublinhou os princípios orientadores da sua reforma que hoje, sabemos, pôs fim a quatro décadas da maior taxa de analfabetismo no país.
“Abandonamos os caminhos contemplativos dos atrasos. Queremos universidades a formar homens, universidades de trabalho e de criação, universidades na procura da verdade, universidades espaços de reflexão, universidades com independência de pensamento. Queremos aqui uma universidade de esperança no surgir de um Portugal novo, digno de todos os portugueses. São estes os meus votos para a jovem Universidade do Minho”, afirmou Veiga Simão, último Ministros da Educação Nacional do Estado Novo.
No primeiro discurso, como reitor da UMinho, Lloyd Braga fez suas as palavras de Veiga Simão para frisar que “Criar uma Universidade é uma tarefa de dor e alegria”, no entanto, a tarefa de 1974 foi essencialmente de alegria”.
O ano letivo de 1975/76 marca a abertura de portas aos primeiros 240 alunos da UMinho nos cursos de formação de professores, línguas vivas e engenharia no complexo pedagógico da Rua D. Pedro V. Poucos meses depois, em outubro, é publicado o 1º artigo científico com o cunho UMinho.
No campo da investigação, entre 2010 e 2022, os centros da instituição estiveram envolvidos em 2.049 projetos de I&D, tendo captado 531 milhões de euros. Um dos maiores exemplos de sucesso é a parceria com a Bosch, firmada em 2013, e que de acordo com o Primeiro Ministro demissionário, António Costa, esteve “na origem da ideia das Agendas Mobilizadoras no Plano de Recuperação e Resiliência”, pois este modelo é visto como um exemplo interessante para conseguir “favorecer a transladação do conhecimento para os centros de produção de riqueza”.
A UMinho é responsável por 10% da produção científica nacional e está também entre as instituições nacionais com mais elevado registo de patentes. Em 2023, foram 365 destacando-se as áreas da física, das necessidades humanas, da química e de operações e transporte. Conquistas que têm ajudado a transformar e desenvolver não só a região do Minho, que dá nome à academia, como o país.
“A Universidade do Minho fez um caminho partindo de 240 estudantes em 1974 até aos 21 mil que tem hoje e 8 mil em pós-graduação, estendendo a sua atividade a todas as áreas de conhecimento. É um caso conhecido em Portugal e internacionalmente pela sua ligação próxima ao tecido económico regional, em especial, o industrial”, disse Augusto Santos Silva, presidente da Assembleia da República, na cerimónia dos 49 anos da UMinho.
A instituição de ensino superior minhota volta a fazer história em 1981 com Lúcio Craveiro da Silva a ser o primeiro reitor eleito em Portugal. Ele que defendeu, nos 10 anos de UMinho, que “os homens valem segundo a cultura que os enriquece e o lar da cultura é a universidade”.
15 anos depois, em 1989, já com Sérgio Machado dos Santos como reitor foram inaugurados os primeiros edifícios naqueles que são hoje os principais campi da UMinho, Gualtar, em Braga, e Azurém, em Guimarães. Foi preciso esperar até 2012 para assistir à inauguração do campus de Couros, na cidade berço.
No ano em que comemora 50 anos, a Universidade do Minho apresenta-se com uma comunidade composta por 21 mil estudantes dos quais 2.400 são estrangeiros, 1.747 professores e investigadores e 738 técnicos, administrativos e de gestão.
As infraestruturas também cresceram. Atualmente conta com 3 campi, 12 unidades orgânicas e 30 unidades de investigação pelos quais já passaram mais de 100 mil alunos formados pela academia minhota. Alguns exemplos que comprovam, como considerou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, em dezembro de 2023, que a UMinho conseguiu ir mais além.
“A Universidade do Minho, mesmo no quadro das chamadas novas universidades, conseguiu ir mais longe. Conseguiu convergir ciências duras com outras que normalmente assim não são apelidadas”, declara.
Recentemente, a Universidade do Minho foi reconhecida pela A3ES – Agência De Avaliação E Acreditação Do Ensino Superior, no relatório de avaliação, como uma “verdadeira universidade de investigação”. Uma distinção validada também pelo trabalho realizado nos 13 laboratórios colaborativos e 9 laboratórios associados, sem esquecer o nascimento de 48 spin-offs.
Mas uma universidade, já dizia Carlos Lloyd Braga, é sempre um edifício em construção”, e por isso, é tempo de projetar os próximos 50 anos repletos de oportunidades, mas também de desafios e perigos que, já em 2014, em entrevista aos canais da Universidade do Minho, Veiga Simão identificava.
“A reforma que nós temos de fazer na sociedade portuguesa não envolve apenas o Estado, mas também a sociedade civil e à medida que a universidade se fortalece, a sociedade civil também se devia fortalecer. Se isso não acontece é natural que a universidade se possa tornar numa instituição complexa, com pouca capacidade para refletir e criar. Deixa de ser uma verdadeira oficina de criação e liberdade. A UMinho deve fazer essa pedagogia”, rematou.
