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Marley - DR
Liliana Oliveira

Regional 12.08.2020 09H52

Uma epidemia chamada abandono 

Escrito por Liliana Oliveira
Canil municipal de Braga tem 80 cães para adopção e 47 gatos.
Rui Morias, responsável pelo Canil Municipal de Braga, e Ricardo Almeida, da ABRA, sobre o estado do centro de recolhimento

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A Kika, uma gata branca de olhos azuis, foi resgatada por uma família de Vila Nova de Famalicão, no meio de uma floresta. Passou a ter um lar e o carinho que lhe faltavam. A mesma sorte teve Marley, um cão rafeiro, de pelo bege e olhos grandes e castanhos, que tinha o destino traçado logo à nascença. Agora, com seis meses, é feliz com quem o trata como um membro da família. Estes são apenas dois exemplos, mas há muitas Kikas e muitos Marleys que ainda procuram a sorte de ser adoptados.


Com a chegada do Verão, muitos são os animais que se passeiam pela rua. Abandonados. Se há quem os considere parte integrante da família, em muitos casos são tratados como um objecto dispensável. Ninhadas inesperadas, mudança de casa, factores económicos, perda de interesse pelo animais ou o seu comportamento problemático são apontadas, por alguns estudos, como as causas mais frequentes para o abandono.


A lei que criminaliza os maus-tratos contra animais entrou em vigor a 1 de Outubro de 2014 e prevê que "quem, sem motivo legítimo, infligir dor, sofrimento ou quaisquer outros maus tratos físicos a um animal de companhia é punido com pena de prisão até um ano ou pena de multa até 120 dias”. Se desses actos resultar a morte do animal, a pena sobe para “prisão até dois anos ou multa até 240 dias".

Em relação aos animais de companhia, a lei determina que "quem, tendo o dever de guardar, vigiar ou assistir animal de companhia, o abandonar, pondo desse modo em perigo a sua alimentação e a prestação de cuidados que lhe são devidos, é punido com pena de prisão até seis meses ou com pena de multa até 60 dias".


Em 2019 foi publicada uma nova lei que insta a obrigatoriedade da identificação do animal de estimação através do Sistema de Informação de Animais de Companhia (SIAC) e é criada uma taxa de registo no valor de 2,5 euros, que dá multa a quem violar as novas regras. Desde 2008, existe a obrigatoriedade de colocação do microchip.



"Vemos que hoje as pessoas não abandonam tanto os animais", diz administrador da Agere


No Canil Municipal de Braga há espaço para 27 gatos e 54 boxes para cães (com condições para mais do que um animal), a que acrescem duas para animais em quarentena. Há, neste momento, 80 cães à espera de ser adoptados e o número de gatos subiu de 27 para 47 com a chegada de uma gata com uma ninhada de 20 bebés.

Entre Junho e Julho foram adoptados 65 cães, um número fora do normal já que a média são 20, e há meses em que chegam a ser acolhidos entre três a sete gatos.


Rui Morais, administrador da Agere, empresa municipal responsável pelo espaço, garante que o abandono não aumentou com a pandemia ou a chegada da época de férias. “Não temos tido mais abandono do que o habitual neste período de férias, temos tido um contínuo interesse em adopções. Houve anos em que sentimos um aumento do abandono neste período, mas há dois anos e o ano passado sentimos uma diminuição”, afirmou, apontando a legislação como uma possível ajuda.

Na região, por vezes são capturados uma média de 40 animais por mês, mas são adoptados 47.


Em Braga, foi encontrada há dias uma cadela acompanhada por 13 crias. Depois de recolhidos e instalados no canil, é necessária a esterilização. “Só assim se pode evitar que haja um aumento exponencial pelas crias que podem ter”, apontou Rui Morais, dando nota que o concelho foi um dos primeiros do país a avançar com “a esterilização dentro de portas”.


“A lei veio ajudar bastante a que já não se olhe para um animal como algo descartável. Vemos que hoje as pessoas não abandonam tanto os animais. As situações que temos tido são mais na periferia da cidade, mas há uma tendência muito grande de diminuição do abandono”, frisou.


O espaço foi forçado a adaptar-se à nova realidade, devido às restrições impostas pela pandemia. Os horários de trabalho e das visitas foi redefinido, o número de voluntário diminuído e as medidas para adopção reforçadas. Apenas uma pessoa se pode deslocar ao canil para adoptar um animal, ficando limitada a um espaço restrito.


"É altura das ninhadas e houve mais entradas, principalmente de gatos juvenis" - ABRA

Formada em 2005, a Associação Bracarense Amigos dos Animais - ABRA - garante que todos os animais do Canil Municipal permaneçam em jaulas limpas, que nunca sintam falta de comida, que passeiem e não lhes falte carinho. A pandemia provocada pela Covid-19 veio alterar os hábitos diários da associação. Até aqui, todos os dias um grupo dos cerca de 50 voluntários visitava os animais. Agora, as visitas passaram de diárias a semanais, ao sábado, e os voluntários ficaram reduzidos a 30. Um dos grandes desejos passa agora pelo regresso diário ao canil.

"É altura das ninhadas e houve mais entradas, principalmente de gatos juvenis, mas também de alguns gatos e cães adultos", confessou à RUM o responsável pela ABRA, Ricardo Almeida.


Em tempo de férias, este ano agravado pela pandemia, tornou-se "normal haver entrada de mais animais". "A grande dificuldade são as adopções que são poucas para a realidade do canil", acrescentou.

A associação promove, no primeiro sábado de cada mês, campanhas, onde os interessados podem ajudar monetariamente, com ração, mas, sobretudo, com a adopção.

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