Academia 05.11.2025 15H23
"Sentiria frustração se daqui a um ano tivesse muito pouco para dizer daquilo que se alterou"
Eleito reitor da UMinho há menos de uma semana, Pedro Arezes assume em entrevista à RUM que parte da comunidade académica desejava uma mudança mais profunda na liderança da instituição.
Pedro Arezes, eleito reitor da Universidade do Minho (UMinho) há menos de uma semana assume, em entrevista à RUM, que parte da comunidade académica desejava uma mudança mais profunda na liderança da instituição e que esse é um dos desígnios pelos quais vai trabalhar afincadamente nos próximos anos. Esta terça-feira, o professor catedrático da Escola de Engenharia da Universidade do Minho concedeu à RUM a primeira entrevista após a eleição para o cargo de reitor realizada na passada sexta-feira.
Começou por liderar uma lista ao Conselho Geral (CG) da Universidade do Minho, enfrentou uma lista protagonizada por um membro [Eugénio Campos Ferreira] da equipa reitoral de Rui Vieira de Castro [reitor nos últimos oito anos] e venceu de forma categórica. Pedro Arezes afirmou desde o início que o objetivo era candidatar-se ao cargo de reitor da instituição e após a tomada de posse do novo Conselho Geral submeteu a sua candidatura sem que encontrasse qualquer lista opositora. Na primeira grande entrevista à RUM após a eleição, Arezes assume que os múltiplos contactos estabelecidos ao longo de todo o processo deixaram a "percepção que de facto havia uma ambição de querer terminar com um ciclo de continuidade".
"Era necessário fazer alguma coisa, uma transformação por dentro"
A decisão estava tomada e Pedro Arezes garante que não foi "empurrado" a candidatar-se, mas que o fez dado o contexto e a experiência adquirida, nomeadamente na presidência da Escola de Engenharia. "Havia uma leitura que era necessário fazer alguma coisa, de uma transformação por dentro, e nada melhor do que a partir de um conjunto de experiências que tinha a ver com pessoas que estiveram ao comando das unidades orgânicas, que tinham uma percepção ainda mais detalhada sobre aquilo que seriam os grandes obstáculos dentro da academia", argumenta. "Quando é um elemento novo não sabemos bem e, portanto podemos pôr uma expectativa, sobretudo positiva, nesses elementos e eu julgo que fui largamente beneficiado por isso, ainda que eu reconheça que estou na academia há 30 anos e, sobretudo, tenho um passado mais recente de executivo com uma das escolas maiores e, portanto, parte desse reconhecimento também teve a ver com aquilo que foi o meu papel como presidente da Escola de Engenharia", assume.
Sobre a equipa reitoral que escolheu para o acompanhar, responde sem rodeios de que alguns deles foram segundas escolhas.
Foram todos primeiras escolhas? "Não todos, devo dizê-lo com honestidade e confessar aqui na RUM, é a primeira vez que o digo, que não foram todos primeiras escolhas e digo isto com algum conforto, porque isto não menoriza as segundas escolhas", responde, acrescentando que numa ou outra situação o não entendimento ficou relacionado com aspetos da vida pessoal.
Explica que foi "fácil e difícil ao mesmo tempo" construir a equipa, porque o número de possibilidades era alargado. O difícil foi "deixar de fora muitos colegas que têm elevadíssima competência e até motivação para estarem numa equipa reitoral". O exercício de seleção passou pelo perfil, atividade passada, afinidade com a área do pelouro e com o próprio reitor. "Eu julgo que encontrei a panóplia de pessoas ideais e a experiência que tenho tido até ao momento tem sido acertada", conclui.
Nos próximos doze meses, novo reitor espera assegurar conquistas em áreas como valorização laboral, edificado e simplificação de processos administrativos
"Sentiria uma frustração se daqui a um ano estivéssemos aqui a fazer um balanço e eu tivesse muito pouco para dizer daquilo que se alterou" - Pedro Arezes
O programa submetido a sufrágio contém 175 medidas para levar a cabo neste mandato de quatro anos que inicia oficialmente no dia 3 de dezembro de 2025. Pedro Arezes assume que representa "uma forte ambição" da sua equipa e que é necessário "começar em várias frentes", nomeadamente do ponto de vista laboral com a valorização das pessoas, a progressão da carreira, as oportunidades de ingresso, recrutamento e redução da precariedade. Iniciativas que, assume aos microfones da RUM, "vão ocupar muito tempo" e exigir "um esforço financeiro e organizacional".
O edificado surge como segundo eixo deste conjunto de ações prioritárias. Pedro Arezes considera que os períodos de menor manutenção resultaram numa maior degradação das infraestruturas exigindo-se agora uma "atuação muito rápida" para travar esse caminho e impedir em simultâneo custos mais pesados no momento das intervenções.
Outra dimensão prioritária mencionada pelo novo reitor é a simplificação dos processos administrativos, "que são cada vez mais e cada vez maiores".
"A universidade ganhou uma complexidade que não tinha, não só pela sua escala, mas também pelo número de desafios diferentes que hoje em dia tem, e que nem sempre teve. Temos que ter ações concretas neste domínio da simplificação administrativa, e que passa por trabalharmos quer numa componente mais técnica, de perceber como é que os sistemas de informação, por exemplo, interagem e comunicam entre si, mas também numa vertente mais operacional em perceber que os serviços têm que ter isto como linha condutora de toda a sua atividade, a não criação de burocracia adicional àquilo que são os nossos processos", sintetizou.
Questionado se, dentro de um ano, a Universidade do Minho já sentirá diferenças pelo trabalho realizado na qualidade de reitor, Pedro Arezes é taxativo: "O meu otimismo leva-me a pensar que, se não for tudo diferente, alguma coisa há-de ser diferente, e sentiria uma frustração se daqui a um ano estivéssemos aqui a fazer um balanço e eu tivesse muito pouco para dizer daquilo que se alterou. E, portanto, eu acho que, mais uma vez, a academia merece isso e nós temos essa obrigação", respondeu.
À comunidade académica, o Professor Catedrático garante que a sua equipa [que ainda não entrou em funções] já está a trabalhar não apenas na transição, como na preparação para a implementação dos compromissos assumidos.
"Há ideias muito concretas" e a nova reitoria está apostada em "garantir que a Universidade se reforce como uma universidade pública, moderna, democrática e participativa e, sobretudo, profundamente comprometida com a valorização das pessoas, com a qualidade do seu ensino, a excelência da sua investigação".
Admite que a prioridade é a organização interna da instituição, mas sem desvalorizar a ligação à sociedade em múltiplas vertentes. A UMinho deve ser atrativa "para as famílias e para os alunos que procuram a educação superior" e não vai desvalorizar a dimensão internacional.
"Ainda que seja uma ligação à sociedade, ela não se restringe a nível local, também a nível internacional, mas sobretudo o que gostávamos mesmo de transformar era que a sociedade percebesse que a Universidade do Minho tem cada vez mais impacto naquilo que é a nossa vida em sociedade e este impacto tem a ver com uma coisa que reconhecem à Universidade, que é o conhecimento, a produção de conhecimento e nós gostávamos que fosse um pouco mais além, que fosse a produção de conhecimento não por si, que já é reconhecida, um objectivo e é certamente um objectivo da Universidade com valor, mas gostávamos que fosse o reconhecimento posto ao serviço da sociedade, com impacto para a sociedade. Perceber que aquilo que nós fazemos, quer em termos da nossa oferta educativa, quer em termos dos nossos projetos de investigação e da nossa prestação de serviços, também técnicos e tecnológicos, a sociedade nos reconhecesse, de facto, esse papel absolutamente essencial nesses três domínios. Não é que não reconheça, mas gostávamos de reforçar isso", detalha.
Pedro Arezes quer vice-reitoria para inovação, empreendedorismo e transferência de tecnologia
O professor catedrático voltou a mencionar o que já tinha referido na sua audição: promover a vice-reitoria a responsabilidade dedicada à inovação, empreendedorismo e transferência da tecnologia. Considera que as universidades precisam de apostar e reconhecer a sua valorização económica e social, quebrando uma espécie de tabu que ainda existe. "[As universidades] têm algum receio de se apresentarem como uma aposta forte nesse domínio, mas eu acho que hoje em dia não temos que ter receio disso e temos obviamente que trabalhar para isso e, portanto, não só apresentar-se como uma universidade que é inovadora nos seus projetos, na escolha dos seus projetos e das suas apostas em termos científicos, mas também que quer pôr esse conhecimento ao serviço da sociedade, ou seja, transferi-lo para as empresas, transferi-lo para as organizações, valorizá-lo comercialmente, que é muito importante, porque é na realidade assim que a sociedade também nos reconhece esse valor", justifica.
"Há trabalho muito bem feito na colaboração entre a UMinho e os municípios de Guimarães e Braga"
Este último trimestre de 2025 apresenta a coincidência de uma mudança na liderança da Universidade do Minho mas também dos Municípios de Braga e Guimarães. A proximidade institucional é evidente e na opinião do professor catedrático foram atingidos "patamares de colaboração absolutamente únicos na região comparativamente a outras regiões".
Pedro Arezes declara que dos contactos já estabelecidos com Ricardo Araújo e João Rodrigues "há essa vontade absolutamente declarada de aproveitar esse efeito sinérgico". Ainda assim, na impossibilidade de a UMinho contar com pólos em toda a região existe margem para de forma "criativa" colaborar com outros municípios, aponta também.
Com caraterísticas que procuram fugir às universidades clássicas, a afirmação nacional e internacional da UMinho já atravessou diferentes fases, nomeadamente no que à classificação de rankings respeita. Questionado sobre um passado recente menos empolgante desse ponto de vista, Pedro Arezes assume alguma dificuldade em perceber essas variações mostrando-se cauteloso, nomeadamente no que respeita a parâmetros. Por isso, a estratégia deve passar pela "aposta no mérito e na qualidade da atividade nas várias dimensões", que mais tarde ou mais cedo reflete-se nos rankings. "O reconhecimento dos pares, a visibilidade dos trabalhos, dos projetos científicos e o impacto que eles têm, quer na sociedade, quer do ponto de vista académico, é algo que todos os rankings acabam por ter. Alguns depois são muito focados nas publicações, outros são mais centrados no prestígio da instituição avaliada através do contato com colegas no contexto global. O que eu estou certo é que se fizermos essa aposta na tal excelência, no reconhecimento de mérito, que isso no médio e longo prazo se reflete nessas dimensões todas e, portanto, de alguma forma nos rankings", admite.
Colocar a UMinho no top 3 das universidades portuguesas é um objetivo
Pedro Arezes assinala que um desejo da equipa é fazer com que quando um cidadão pensar nas universidades de maior relevo e maior impacto, pense na Universidade do Minho e acredita que a instituição se encontra já numa posição privilegiada para isso.
Na ótica do reitor da UMinho, a instituição "trilhou um caminho de muito reconhecimento", nomeadamente na ligação às empresas e à economia e deve continuar essa aposta.
Classificando a instituição como uma universidade "inovadora na sua abordagem, na investigação, no ensino, na proximidade entre os docentes e os alunos", Arezes acredita que esta identidade pode tornar-se "mais visível, e mais visível a uma escala global também", resultando num aumento de prestígio e reconhecimento interno e externo.
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