Regional 28.03.2017 14H41
Grupo de cidadãos pondera reunir com SONAE
Mais de setenta pessoas assistiram ao debate promovido por um grupo de cidadãos de Braga que contesta a construção de um supermercado no centro urbano, desta vez na rua 25 de Abril.
A obra decorre a bom ritmo e a margem de manobra é cada vez menor, mas um grupo de cidadãos de Braga não dá a luta por terminada face à construção de um supermercado da SONAE em andamento na rua 25 de Abril.
Na noite de ontem, o debate organizado por quatro cidadãos contou com três figuras da engenharia civil, urbanismo e arquitectura, para discutir a viabilidade daquele espaço, a postura da Câmara Municipal de Braga, e as soluções possíveis para travar a obra. Mais de setenta pessoas encheram o café Peninsular, próximo do edifício em construção, para ouvir e deixar contributos.
Indignados com a postura do presidente da Câmara Municipal de Braga que diz nada poder fazer sobre esta matéria, muitos cidadãos colocam em causa a seriedade do autarca e as promessas que fez para ser eleito em 2013.
Reunir com a SONAE é uma das possibilidades colocada em cima da mesa. No final do encontro, Luís Tarroso Gomes, um dos promotores, enalteceu a participação e as sugestões que chegaram. "Era preciso fazê-lo e daqui saem contributos para o que podemos fazer agora", começou por dizer. E deu o exemplo sugerido para o pedido de uma reunião com a SONAE "sensibilizando-os para o erro que estão a cometer de estarem a construir um pavilhão comercial no coração da cidade", explicou.
"Não conseguimos discutir a cidade a não ser perante factos consumados" - Luís Tarroso Gomes
Outra das sugestões foi no sentido de minimizar o problema, como a alteração da fachada da superfície comercial que se prevê semelhante à do pavilhão na Quinta das Portas. Ainda assim, Luis Tarroso Gomes, alerta para outros pontos desvalorizados pelo município que deixou que a construção se iniciasse no terreno das Oficinas de S. José. "Quantos usos possíveis podemos pensar para aquele espaço e quanto é que isso custa à cidade? Essa discussão não tivémos porque a câmara apresenta isto como inevitável". Ainda assim vai mais longe e alerta: "Era possível com muita facilidade a câmara, com as regras gerais do PDM, sem ir à situação específica em que isto está, indeferir, e isso devia ter sido a base de tudo, pensar o que é que a cidade quer para aquele espaço. Isto foi-nos negado durante décadas em Braga e continua a ser. Não conseguimos discutir a cidade a não ser perante factos consumados", lamentou.
Outra das sugestões que o grupo de cidadãos não coloca de parte é a possibilidade de realizar uma acção de contestação à entrada do terreno onde decorrem as obras para a instalação de mais um Continente Bom Dia.
"Senti-me ofendido", admitiu José Miguel Braga
José Miguel Braga, outro dos cidadãos que se juntou à causa para contestar a construção daquele pavilhão, disse sentir-se "ofendido" com o que está a ser feito. "Depois de toda a construção e destruição que Braga conheceu, não acreditava no que estava a acontecer", desabafou perante a plateia, minutos antes de iniciar a moderação do debate, revelando desilusão para com a postura de Ricardo Rio e comparando-o ao tempo de Mesquita Machado no poder.
O ponto de vista do painel de convidados para o debate
Manuel Miranda, engenheiro civil e urbanísta é mais um dos contestatários. Refere que a fundamentação de uma decisão "é um princípio básico" que a Câmara Municipal de Braga não respeitou. Também José António Lameiras, engenheiro e urbanista de profissão - integrou a equipa para a construção do Continente de Matosinhos - começou por alertar para o PDM, que "precisa sempre de ter alguma flexibilidade" mas também "disposições para poder indeferir um projecto ou obrigar a respeitar".
Ainda que se tratem de situações distintas do ponto de vista da construção, Manuel Miranda aponta que "nada do que está neste PDM é valorizado" e que o município de Braga "tinha de se atravessar, mas demitiu-se dos poderes".
José António Lameiras defende que este é um dos projectos que "deveria necessitar obrigatoriamente de uma consulta pública, tal como é o PDM ou uma operação de loteamento com algum impacto".
Teresa Calix lamenta que o município se tenha "demitido de actuar em prol de uma boa solução urbanística. A demissão do poder político reflete-se numa demissão de encontrar as soluções certas" e aponta que se está "a perder uma oportunidade de usar este serviço para criar um espaço público".
A opinião de alguns dos cidadãos que assistiram
Alguns dos cidadãos que se manifestaram na plateia foram coerentes no raciocínio: " Está tudo nas mãos da CMB que não se devia escudar com os argumentos de que a obra é legal".
Entre as vozes que se foram ouvindo de forma intercalada, a preocupação estética e arquitectónica, a concorrência com os pequenos comerciantes, a qualidade de vida dos moradores, as preocupações com a qualidade do ar e com o congestionamento de trânsito foram os lamentos mais evidentes.
Ainda assim, se a superfície comercial ficar mesmo no centro urbano, há quem sugira que seja procurado um espaço que necessite de ser reabilitado e que aí se instale o referido supermercado, promovendo a reabilitação e preservando o edificado da zona histórica.