Academia 19.01.2021 17H58
"Não imaginam o sofrimento de se ter doentes à porta e não ter como lhes dar resposta"
Pedro M. Teixeira, docente da Escola de Medicina da Universidade do Minho, diz ser necessário um confinamento total durante 15 dias e apela à colaboração dos portugueses no combate a esta pandemia.
"Estamos no limite. É uma situação dramática e urge sermos capazes de nos mobilizar para conseguirmos travar este aumento significativo de infeções", alerta o docente da Escola de Medicina da Universidade do Minho, Pedro M. Teixeira. No dia em que o país ultrapassou, pela primeira vez desde o início da pandemia, as duas centenas de óbitos, o também investigador do ICVS adianta que, "nos próximos dias, iremos assistir a um número de mortes de 200 e eventualmente até 300 e o número de internamentos a aumentar, com alguns hospitais a ficarem sem capacidade de resposta".
Segundo o docente, as medidas anunciadas pelo Governo, esta segunda-feira, não são suficientes para travar rapidamente a propagação da Covid-19 em Portugal. No entanto, alerta, mais do que as medidas, é necessário que "a população seja capaz de compreender e ajudar os profissionais de saúde, que estão a trabalhar para lá do limiar da força humana. O país precisa de todos, agora". "Não imaginam o sofrimento dos profissionais de saúde ao saber que têm doentes à porta que precisam de cuidados e não têm como lhes dar resposta, porque são demasiados doentes, e sem cuidados alguns vão morrer", desabafou Pedro M. Teixeira.
É necessário "confinamento total durante 15 dias" para alcançar resultados
O investigador referiu ainda que "quanto mais rápidos e eficazes formos a cumprir, menor será o tempo que temos que estar em confinamento total". Ainda que entenda a dificuldade na gestão da crise pandémica, Pedro M. Teixeira considera que embora não se queira "comprometer a economia, corremos o risco de a comprometer ainda mais, porque não vamos ter resultados e o problema vai-se arrastar no tempo e a economia vai sofrendo também". "A gestão não poode ser apenas política, tem que ser bem informada do ponto de vista científico", acrescentou.
Para o docente da Escola de Medicina, é necessário que o Governo avance para um "confinamento total, durante 15 dias, para termos os resultados que pretendemos". "Não é só fechar as escolas, é fechar tudo, permitindo apenas o transporte de bens essenciais e medicamentos", completou.
O número de novos casos tem prevalecido na faixa etária entre os 18 aos 24 anos. É para os jovens que Pedro Teixeira deixa um apelo: "Na medida do possível, temos que ficar em casa. Sei que queremos sair com os amigos, mas este não é o momento. É o momento para sermos produtivos a partir de casa. Usem as redes sociais para interagir, se estão cansados e não sabem o que fazer peguem numa garrafa de álcool e vão desinfetar os interruptores, perguntem às pessoas mais idososas se há alguma coisa que podem fazer por eles. Sejam proativos, porque a sociedade precisa de vocês, mais do que nunca!".